O que vos trago aqui hoje, não é daquelas famosas hiperligações que expomos no nosso blogue, no Facebook, nas páginas de Web ou mesmo os milhares de envios de correio electrónico, que vamos recebendo com esses espectaculares vídeos do youtube, ou outros que nos vão divertindo ou chorando. Infelizmente não vos apresento nada disso, nem mesmo terá um contador de visitas e nem pretende ter uma posição de destaque em números de vídeo mais visto, mas sim, transmitir-vos o que uma coisa pode mudar tanto em várias situações.
Fui para o Hotel do Caramulo e a situação é esta; entrou no hotel uma família com 3 filhos, pai e mãe. A mãe estava de cadeiras de roda e quando passei pelo corredor olhei como quem olha para tantas pessoas que estão nessa situação. Quando a voltei a encontrar minutos depois, reparei que a senhora era tetraplégica. A mesma situação mas mudou logo em mim a atenção por essa pessoa, os meus olhos cruzaram mais vezes com os dela, mas os dela se cruzaram com a minha linha de visão, não foi mais que um olhar distante e não compreensivo, da minha compreensão pela situação dela.
Dia seguinte, depois de uma manhã bem passada na piscina, no jacuzzi, nas saunas e banhos turcos e sei lá mais o quê, deparo-me com a família no recinto da piscina. É aqui que esta situação bem podia ser, um de tantos vídeos sentimentalistas que rodam por esse mundo fora. Os filhos e o marido beijavam-na como se de uma criança se tratasse, lentamente ergueram-na da cadeira de rodas e aos braços do marido foi levada para o interior da água da piscina. O seu corpo imóvel boiava dentro de água, excepto os seus fortes braços que o agarravam pelo pescoço, como tantas vezes assim o deve ter feito durante a vida. Ele, com o mesmo semblante do início ao fim, talvez a pensar o porquê de ter sido a ela, o porquê de não estar agora cada um a dar as suas braçadas, mesmo assim nunca deixou de prestar atenção à sua mulher, e os filhos sempre à volta da mãe com carinhos a chapinhar na água. Ela, nada, o mesmo olhar fixo num ponto incerto, num ponto que talvez ela nem o compreendesse, mas estava também dentro da piscina como tantos outros que se divertiam naquele momento.
Quanto a mim, a mais de meia hora que esteve dentro de água foi acompanhada sempre pelo meu olhar, o tal olhar que no dia anterior passou por ela sem lhe dar muito significado, depois um pouco mais quando reparei melhor nela e agora ali na piscina, bastou que a mesma situação (de uma senhora de cadeira de rodas) tomasse um outro cenário para que me rendesse e ficasse a olhar. Admirei aquela família, compreendi muito bem a situação deles, o carinho mais que extremoso pela mãe e mulher.
Há tantos vídeos destes por aí que não precisam de hiperligação para se verem. Quanto aos comentários, reservo-me a mim próprio faze-los e assimilar todos os sentimentos que obtive naquele dia de férias no Hotel do Caramulo do ano 2010. Sei que era dia 1 de Abril, o dia das mentiras, mas o que vi, infelizmente não é mentira. Reserva-me apenas dizer que felizmente, aquela senhora tem uma excelente família que a adora. Parabéns aos cinco.
Por Paulo Cadeiras em 05-04-2010
Porque, se calhar nunca tiveste oportunidade de vir à Praia de Carcavelos, onde existe um projecto chamado "Tiralô" que consiste num carrinho que leva todas as pessoas com as mais diversas limitações físicas e psicológicas à água. Na sua grande maioria são paraplégicos... outros deficientes profundos.
ResponderEliminarUm deles é uma criança, de nome Mariana... tem 11 anos e, por causa de um acidente de viação, reconhece-nos mas vegeta.
Vai à agua com a ajuda desse carro (o único com rodas que se permite a andar na fofa areia da praia - as cadeiras de rodas não andam - e já dentro de água, apenas sorri porque também não fala.
Só este sorriso, só pelo facto de a podermos soltar do carro e deixarmos com o pequeno toque das nossas mãos (e dos Bombeiros de Carcavelos) boiar, a Mariana sorri ao sabor das ondas.
Coisa banal para nós, não é?
Quantas vezes fugimos das ondas porque estão frias, ou porque simplesmente nem estamos para nos molhar?
E, no entanto, na Praia de Carcavelos criou-se uma maneira de permitir que algumas pessoas possam sentir o que para nós é tão insignificante como o bater das ondas no corpo!
um anjo
Nem mais Angeles, obrigado pelo teu testemunho.
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