…aquela flor estava prestes a cair na terra húmida, naquela manhã fria que o Astro Rei não conseguiu aquecer. Ela que aceitou tantos raios de sol durante a sua vida, hoje, no dia da sua queda para a vida, ele ia falhar-lhe, ele não viria pelo menos abrilhantar a sua queda?
Restavam poucos segundos para esquecer tudo o que viu, o que sentiu, o que foi, o papel que desempenhou junto às suas irmãs. “Ó que vida esta, porque agora? …”
Ainda teve tempo, o privilégio, de sentir mais uma vez o peso da abelha, aquela abelha que tantas vezes lhe fez companhia, que a visitou e em troca levava o pólen que ela tinha para lhe oferecer.
Agora já não pertencia, ela há uns dias que pousava mas não ficava, rejeitava-a no segundo exacto que lhe tocava. “Não, olha, não vás já, faz-me um pouco de companhia…”. Mas não.
A nossa flor olhou à volta e viu como estava lindo o jardim, novas flores nasciam por todo o lado enquanto ela, não tinha moeda de troca perante elas. “Já não sou como elas, tenho de me conformar."
Caiu, caiu de costas, sentiu o impacto no chão molhado, naquela terra que lhe serviu de lar e lhe deu o alimento até então. Antes de esquecer tudo, apagar para sempre o rasto da sua passagem por cá, olhou para cima para as suas irmãs, despediu-se da forma que pode e o sol, o sol não veio despedir-se. Desistiu, não tinha mais tempo.
Lembrem-se que a flor dentro de nós também vai cair, também vai ser rejeitada, não teremos uma moeda de troca e faltará sempre no fim, talvez, aquele que nos pareceu ser a nossa maior companhia, o que nos abrilhantou a maior parte dos dias… nesse dia não se importem, recordem sempre como ele foi importante durante o resto dos dias e não nesse dia…
…uma vida não é um dia…
Por Paulo Cadeiras em 07-02-2010.
"O que você deixa para trás não é o que é gravado em monumentos de pedra, mas o que é tecido nas vidas de outros." (Péricles)
ResponderEliminarGostei deste texto, sem dúvida alguma.
ResponderEliminarO teu blog está muito giro e cada vez mas sugestivo.