quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Escuta o coração.


Caminhos tortuosos que os meus pés vão trilhando
Serpenteiam os vários relevos que vão encontrando
Tentam passar por eles com distinção
Sem um mapa para consultar
Apenas se guiam pelo coração.

O que deixaram para trás ficou na história,
Na memória de um cérebro intacto
Ficou a grande recordação.
Pelos cinco sentidos do meu corpo passaram
Mas cravadas, apenas no coração.

Nunca saberei o caminho, o destino e nem o relevo,
Nem as dificuldades encontradas e nem as impostas.
Mas sei que os vou levar até ao fim,
Ao que lhes falta caminhar tomei uma decisão,
Continuar a ouvir o meu coração.

Podes perder a cabeça até por vezes a razão, mas nunca o coração. Escuta-o, a cada batida que ele dá é um sinal da vida, para a qual ele te mantém.

Por Paulo Cadeiras em 26-01-2011.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rótulos não fazem a marca…


Qual a razão de ter um nome?
Para me poderem chamar, para me identificar?
Porquê que sou obrigado a somar anos após anos?
Para chegar rápido ao fim da linha?
Para saberem que passei o prazo de validade?
Quando apenas o que queria
Era esquecer a idade.

Aprisionado a ritos e rituais,
Lançado no meio do Mundo
Como tantos outros iguais,
Vivendo das grandes novidades
Do Futuro que se adivinha,
Mas de mentalidades por vezes ancestrais.

E é assim que me sinto hoje,
Rotulado, carimbado, prensado por alguém.
Mas há sempre algo em mim que me diz…

Por mais “rotulado” que seja, nunca mudaram a “marca” que sou, porque rótulos não fazem a marca…

Por Paulo Cadeiras em 19-01-2011

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Memórias na Gulbenkian.


Deixei na manhã de hoje, o carro na sua primeira revisão, ali na Avenida da República em Lisboa. Mas o que vos quero dizer nada tem a ver com este acto mas sim no que daí saiu, já depois de o ter deixado às mãos do representante.

Passava pouco mais das 9:30 quando me fiz à estrada, não como habitualmente ao volante, mas desta com as próprias perninhas. GPS mental ligado e rumo traçado. A distância não assustava mas o tempo sim; a cada pingo de chuva que caía por vezes em cima de mim, anunciava chuva forte. Não passou disso e não houve tempestades. No caminho que tracei, albergou a rota de atravessar a Gulbenkian e é por isto que escrevo hoje.

Para quem não sabe, a Gulbenkian é composta por um enorme Jardim aberto a todos, onde todos os que quiserem apreciar ou descansar são bem-vindos. Atravessei então os Jardins e lagos neste caso para cortar caminho, para surripiar alguns metros na minha distância. Por vezes para encurtarmos caminho passamos por outros piores só para compensar no tempo despendido, mas neste caso é completamente o oposto; passar por lá é combinar o prazer da viagem e o menor tempo também. E foi já no meio que as memórias fervilharam dentro de mim…

Pelo aglomerado de gente jovem estudantil, de massa nova estudiosa, poderei afirmar que seriam cerca de duas a três turmas de estudantes. Passaram por mim depois de terem deixado a camioneta que os transportou até ali. Vinham em grupos, tal e qual como eu ia em grupo há muitos anos atrás…revi-me por completo ali! Tive a sorte de estudar ali perto e não somente ia várias vezes com os professores como acompanhado pelos colegas de turma. A cada traço de rosto que passou por mim, a cada palavra que soltavam alguns deles e que eu consegui compreender, apercebi-me que nada muda se não quisermos. Aqueles jovens hoje devem ter cerca de 20 anos a menos que eu e falavam dos mesmos livros que li, a “Barca do Inferno”, por exemplo. Vi na cara deles os traços de quem estava enamorado, os mais feios do grupo, as mais bonitas e cobiçadas das raparigas e até o chamado “palhaço” da turma. Consegui ainda ver o rapaz mais alto que por sua vez e raios parta isto, era bem-parecido o raio do miúdo, são sempre eles os causadores de outros não terem a devida atenção por parte das raparigas. Claro que também deu para perceber os que levam os estudos a sério demais. Não posso deixar de dizer que iam acompanhados por duas professoras, mas neste caso e por parte deles, as peças menos importantes naquele palco.

Deixei-os para trás e pensei que eu bem poderia ser um deles, eu fui um deles, mas agora acho que não sei onde me encaixaria ali dentro. Hoje não sei qual o figurante, qual o estudante, qual o tipo de pessoa que há 20 anos fui e a qual me transformei hoje. Hoje passou por mim, varias personalidades que de certeza fui uma delas mas que hoje olhando para eles, não soube depois dizer qual deles seria eu 20 anos depois. Disse que nada muda se não quisermos e friso de novo que sim. Talvez no meio daqueles estudantes, esteja uma personalidade igual à minha, mas não sei se quererá ser como eu mais tarde…

Tudo muda à tua volta, mas nada muda dentro de ti, se não fizeres por isso.

Por Paulo Cadeiras em 06-01-2011.